Diversidade climática e práticas sustentáveis: conheça fatores que tornam a Bahia o maior produtor de café do Nordeste e o 4º do Brasil
24/05/2025
(Foto: Reprodução) Cafeicultores apostam no aprimoramento de processos durante plantação e colheita para manter a qualidade do produto. Conheça fatores que tornam a Bahia o maior produtor de café do Nordeste e o 4º do Brasil
Diversidade climática, investimento em tecnologia e um crescente foco em práticas sustentáveis fazem da Bahia o maior estado produtor de café do Nordeste. No cenário nacional, o estado fica atrás apenas de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Os números são relevantes para a economia ⬇️
👩🌾 De acordo com a Secretaria da Agricultura, Pecuária, Irrigação, Pesca e Aquicultura da Bahia (Seagri), o estado possui uma área de 133 mil hectares dedicados à cafeicultura, com previsão de safra de 265.920 toneladas para este ano — quantidade equivalente a 4,4 milhões de sacas.
☕ Este volume coloca o estado como responsável por 8,2% da produção nacional, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
💰 Só em 2024, a Bahia exportou cerca de 81,6 mil toneladas, o que rendeu uma injeção de US$ 294.893.933 na economia baiana. Entre janeiro e abril deste ano, foram exportadas 33,3 mil toneladas de café, que resultou em um retorno financeiro de US$ 199.724.098.
A produção baiana é marcada por dois tipos principais de grãos: o arábica e o conilon. Com três polos de cultivo – o cerrado, o planalto e o atlântico – a Bahia oferece grãos finos e aromáticos, ideais para os produtos gourmets, além de blends, como são chamadas as misturas de sabores, robustos que compõem diversas marcas.
Bahia é o maior estado produtor de café do Nordeste
Daniel Ramirez/Pixabay
☕ Grão arábica
As diferentes regiões produtoras de café no estado conferem características distintas e de alta qualidade aos seus cafés. A Chapada Diamantina, por exemplo, tem altitude elevada – geralmente acima de mil metros, clima ameno com estações seca e chuvosa bem definidas, solos vulcânicos e ricos em matéria orgânica.
Essas condições favorecem o cultivo de café arábica de alta qualidade, com notas sensoriais complexas, que podem variar de frutadas e florais até as caramelizadas e achocolatadas, acidez equilibrada e aroma intenso e refinado.
Além disso, a região da Chapada possui a Indicação Geográfica (IG) na modalidade Denominação de Origem (DO). Isso atesta a ligação intrínseca entre as características do terroir (extensão de terra cultivada, em francês) e a qualidade superior de seus cafés.
☕ Grão conilon
Já no sul e extremo sul, a produção mais comum é a do café conilon, também conhecido como robusta, e importante para a produção de blends e expresso. Essas regiões possuem o clima mais quente e úmido, com altitudes mais baixas.
Cidades que mais produzem café na Bahia
Ingrid Barretto/Arte TV Bahia
🏆 Produção 'tímida' que rendeu prêmios
Produtores de café que atuam na Bahia têm apostado no aprimoramento de processos durante a plantação e a colheita para manter a qualidade do produto. O agricultor Silvaldo Silva Luz, de 64 anos, é um desses profissionais.
A história da família com a plantação de café, em Ibicoara, na região da Chapada Diamantina, começou com o bisavô de Silva Luz — tradição que foi passada de pai para filho e chegou à quarta geração.
"O café representa tudo para mim, representa viver, porque a gente vive da produção dele. Temos outras plantações aqui, morango, abacate... Mas a produção mais segura é a do café. A gente sabe que, se produzir, tem comércio para ele", destaca.
Silvaldo Silva Luz, de 64 anos, em sua plantação de café em Ibicoara, na Chapada Diamantina
Arquivo Pessoal
Entre as alternativas para manter a qualidade do produto, Silvaldo investiu em uma estufa para fazer a secagem dos grãos, já que, segundo ele, é comum chover em época de colheita. Além disso, o agricultor aposta no uso de produtos biológicos, que não agridem o meio ambiente.
Mas apesar de crescer em meio à cafeicultura, foi só em 2015 que Silvaldo conheceu o café especial, feito com grãos como o arábica. Depois disso, chegou a ser reconhecido com títulos como o Rio Coffee Nation.
"Comecei a produzir esse tipo de café meio tímido, sem acreditar muito, mas, de lá para cá, ganhei três prêmios. Fiquei duas vezes em segundo lugar e uma vez em primeiro".
Bahia é o maior estado produtor de café do Nordeste
Jens/Pixabay
O presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé), João Lopes, destaca que o produtor que se dedica a fazer café gourmet ou especial precisa ter cuidado na condução da planta e, principalmente, na colheita, onde está a fase mais delicada.
"Do dia que colhe – e como colhe – até secar e beneficiar fica definida a qualidade. Após essa fase, não tem nada extraordinário a fazer para manter a qualidade até chegar ao consumidor", explica Lopes.
Já o engenheiro engenheiro agrícola Rômulo Alexandrino pontua que é preciso retardar a maturação do café para fazer uma apuração dos sabores e açúcares do grão.
"Se eu quero um café que precise de uma maturação maior, então eu vou procurar trabalhar mais com o arábica, porque ele tem uma produtividade menor, mas um valor agregado de sabor melhor. Ele é mais palatável e mais aceito pelo mercado". Ainda conforme Alexandrino, essas questões fazem com que o café arábica seja mais caro do que o conilon.
☕ Migração de commodity para cafés especiais
A 252 km de Ibicoara, a produtora rural Ana Cristina Correia Gonçalves Paes, de 68 anos, atua junto com o esposo na plantação de café da Fazenda Ouro Verde, em Barra do Choça, no sudoeste do estado. A produção da família já soma mais de três décadas.
Inicialmente, o plantio era focado no café de commodity. Mas isso mudou há oito anos, quando a produtora rural e o marido migraram para a produção de cafés especiais.
Ana Cristina Correia Gonçalves Paes e o marido Idimar Barreto Paes
Arquivo Pessoal
Entre as técnicas utilizadas pelo casal para garantir a excelência da safra estão:
☕ boa condução agronômica da lavoura;
☕ uso de variedades que acentuem a qualidade da bebida;
☕ colheita seletiva de grãos;
☕ atenção ao pós-colheita (secagem, armazenagem, beneficiamento, etc).
Além disso, a produtora rural destacou a preocupação com a sustentabilidade, respeito às questões sociais e ambientais nos processos da produção. "A propriedade não usa agrotóxicos na sua condução agronômica. Os produtos utilizados para controle de pragas e doenças são de origem biológica, estimulando assim uma maior interação entre a cultura e a presença de inimigos naturais existentes", afirma.
Já os resíduos do plantio – casca do fruto, água do despolpamento e palha do beneficiamento do café – são reaproveitados na própria lavoura para fertilização.
♻️ Certificações sustentáveis
Quem também segue o legado familiar no agronegócio é o engenheiro agrônomo e agricultor Rafael Peixoto Sol, de 44 anos. Nascido em Salto da Divisa (MG), ele se mudou para Eunápolis, no extremo sul da Bahia, ainda na infância.
"Eu sou a quarta geração de produtores da pecuária, mas em 2007 plantei café por acaso e me tornei o primeiro agricultor da família. Desde então, a cafeicultura representa minha profissão principal", conta.
A família Peixoto Sol trabalha em conjunto na fazenda. Rafael é responsável pela parte agrícola, o pai e o irmão seguem na pecuária, enquanto a irmã cuida do setor administrativo.
Rafael Peixoto Sol, de 44 anos, é engenheiro agrônomo e agricultor em Eunápolis, no sul da Bahia
Arquivo Pessoal
Para garantir a sustentabilidade do negócio, a propriedade rural tem 36% de reserva legal de mata, água outorgada, coleta seletiva, trabalhos relacionados a defensivos e regime de segurança. Com três certificações sustentáveis, o engenheiro agrônomo avalia que a Bahia evoluiu muito no ramo agrícola, tanto em relação às novas tecnologias quanto na geração de empregos.
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